São Paulo / SP - sexta-feira, 26 de abril de 2024

Primum Non Nocere

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Nos tempos atuais a medicina certamente tem se desenvolvido de forma admirável, mas passa por um excesso de "tecnologização" e por uma desvalorização de atividades prosaicas que sempre fizeram parte da atividade médica, como a anamnese (que é a entrevista, a conversa do médico com seu paciente) e o exame físico.


Muitos meios de comunicação, no seu afã de comunicar os avanços da ciência, diversas empresas desinformadas ou inescrupulosas e mesmo "colegas" médicos mal formados ou com conflitos de interesse conscientes ou inconscientes têm passado insistentemente para a sociedade a idéia de que uma boa medicina na maioria das vezes tem de lançar mão de aparelhos, e de tecnologias, como se isso, realmente, fosse boa medicina.


Perdeu-se a importância do ditado hipocrático do "primum non nocere", primeiro não lesar. Muitas vezes, o médico prefere lançar mão de procedimentos tecnológicos marginalmente indicados dentro de uma noção de que é preferível que se faça tudo que existe disponível, mesmo que o paciente possa se dar mal no caso de uma complicação da terapêutica do que fazer a menos e o paciente ser prejudicado pela falta de ação. Nesse balanço do fazer e não fazer, há um significativo grupo de médicos, no qual eu me incluo, que considera que hoje em dia têm sido realizadas muitas ações tecnológicas pouco necessárias e que colocam muitas vezes, pacientes sob risco que seria evitável, fossem os prós e contras adequadamente pesados.


O uso de tecnologia sofisticada de modo liberal é o que também tem encarecido sobremaneira a medicina de um modo geral. E esse é um hábito e costume que provém muito da medicina americana, a mais cara do mundo e, infelizmente, a mais seguida em nossas escolas médicas. Os Estados Unidos da América gastam 17% do seu PIB em saúde e têm indicadores de saúde definitivamente piores do que países como a Inglaterra e outros europeus, onde esse gasto varia de 8 a 12%.


Nesse conceito se encaixa a idéia de que existem médicos mais conservadores e há os mais agressivos, que tem muita fé nos avanços que aconteceram ontem mesmo e já querem utilizá-los nos pacientes no dia de hoje. Um ditado prudente diz que os médicos astutos não devem ser os primeiros a usar algum tratamento que acabou de sair e nem devem ser os últimos a deixarem de usar os tratamentos que ficaram ultrapassados. A virtude está no meio.


Dentro desse contexto, me posiciono fortemente ao lado do conservadorismo e da utilização judiciosa das modernas e caras tecnologias.